Ultrassonografia com Doppler Vascular

O que vem a ser o exame de Doppler Vascular?

Todos já ouviram alguém falar que precisava realizar um Doppler ou então após uma consulta médica, dentre os exames solicitados estava um chamado Doppler colorido de vasos. Muitas vezes não entendemos o que significa esse exame e qual sua função, esse texto tem o objetivo de tirar a maioria dessas dúvidas.

Mas para isso, precisamos falar um pouco de História e do Ultrassom. A partir do final da década de 1950, médicos e engenheiros começaram a trabalhar em um moderno aparelho para estudo dos vasos sanguíneos, com técnicas promissoras utilizando o ultrassom. Em 1969, tivemos a primeira aplicação dessa nova técnica, permitindo a análise e o registro de fluxo de sangue dentro dos vasos. Dessa forma, era possível visualizar estas estruturas em duas dimensões e a sua parte interna, ou seja, o local onde corre o sangue. Assim, tínhamos em um único aparelho, uma forma de acoplar a imagem vascular pela ultrassonografia e sua fisiologia pelo Doppler.

Mas o que é o ultrassom? O som consiste em uma onda mecânica que se propaga bem em meios líquidos e sólidos e mal nos gases, quando essas ondas atingem níveis acima de 20.000 ciclos por segundo, elas não podem ser escutadas pelo ouvido humano e passam a ser chamadas de ondas ultrassonográficas. Nos equipamentos médicos são usadas ondas com ciclos ainda mais elevados, de 1 a 15 milhões por segundo.

Dessa forma, o aparelho de ultrassom consiste em um transdutor (que é um pequeno aparelho encostado no paciente durante seu exame) que emite essas ondas sonoras em impulsos controlados de forma eletrônica e que se propagam por meio da pele, atravessando-a e atingindo tecidos mais profundos, como os vasos sanguíneos (no caso da Cirurgia Vascular) ou outras regiões como o coração e órgãos abdominais. Após essa emissão das ondas, elas são refletidas novamente nesse aparelho em forma de energia mecânica que é captada por cristais nesse aparelho que permite a transformação novamente em som e o aparecimento da imagem em um monitor que está acoplado ao aparelho. Assim, vemos em tempo real o que está acontecendo no local que se deseja examinar.

O exame pode atingir diferentes profundidades dependendo do tipo de aparelho utilizado, quanto mais alta for a frequência do aparelho, ou seja o número de ciclos de onda que ele emite por segundo, melhor será a definição e qualidade da imagem, e, quanto menor, perdemos esses detalhes.

Sendo assim, pela ultrassonografia conseguimos enxergar os vasos sanguíneos, porém em preto e branco, e sem poder analisar o fluxo de sangue dentro deles e suas características, fundamentais para uma correta avaliação pelo Cirurgião Vascular e definição do seu diagnóstico.

Desse modo, precisávamos de algo que permitisse olhar dentro dos vasos, seu fluxo de sangue, qualidade e alterações, e isso foi conseguido pelo Doppler Vascular.

O chamado efeito Doppler, foi descrito em 1842 e consiste em analisar a frequência dos sinais recebidos por um aparelho, e que ela varia conforme a diferença entre a frequência recebida e emitida por uma fonte, sendo maior de acordo com a proximidade da estrutura de análise. Por exemplo, podemos citar um trem que emite um apito e uma pessoa esperando na estação, quanto mais o trem se aproxima, mais se ouve o apito. Isso ocorre da mesma forma em nosso corpo, quanto mais o sangue se aproxima do aparelho, maior é a frequência recebida, permitindo a análise adequada do fluxo de sangue dentro dos vasos.

Assim, com o Doppler, conseguimos analisar os vasos sanguíneos não só em sua imagem em preto e branco, mas também identificar o fluxo sanguíneo, pela análise das ondas, que representam as pulsações das artérias e veias, em forma de curvas de fluxo e pela visualização de cores durante o exame. Sendo assim um exame constituído de 3 atributos, imagem, som e cor.

O Doppler Vascular permite então, analisar o que se passa dentro dos vasos, detectar obstruções, “entupimentos” e analisar o funcionamento desses vasos, para que um diagnóstico seja realizado e o tratamento iniciado o quanto antes.

Hoje em dia aparelhos cada vez mais modernos permitem ver ainda mais características do fluxo sanguíneo, ter acesso a melhores imagens e computadores e facilitar a realização de procedimentos, dando mais segurança por permitir uma correta localização e precisão durante o posicionamento
dos materiais utilizados nas cirurgias.

Para quem ele está indicado?

O exame de Doppler Vascular possui inúmeras indicações, vamos focar aqui nas mais comuns relacionadas à Cirurgia Vascular.

Indicamos esse exame para a análise da toda a circulação sanguínea, seja dos membros superiores quanto dos inferiores, permitindo analisar veias e artérias. Um exemplo, é para a detecção de obstrução arterial periférica que causa a “má circulação” nas pernas (Saiba mais sobre essa condição clicando aqui.

No caso das veias, uma aplicação das mais usadas é fundamental para o planejamento de tratamento e seu uso para as varizes. Todos os pacientes com doença venosa crônica devem realizar pelo menos um ultrassom com Doppler .

Também indicamos para as obstruções nas artérias carótidas, para detecção precoce de alto risco para AVC ou análise após um episódio dessa terrível e mórbida doença (Saiba mais sobre ela clicando aqui).

Pode ser usada para análise da artéria aorta entre outras, para uma pesquisa de dilatações chamadas de aneurismas.

Uma outra aplicação frequente é na análise da qualidade das veias do corpo a serem utilizadas na confecção das fístulas arteriovenosas para pacientes com doença renal crônica em programação de Hemodiálise. Esse exame é necessário tanto para o acompanhamento do acesso quanto para a decisão de realizar a fístula ou não. Sendo assim imprescindível.

Outro uso muito importante é no acompanhamento das cirurgias vasculares, que vem se tornado cada vez mais frequente.

Por fim, cito também o uso atualmente durante todas as cirurgias vasculares sempre que presentes, pois orientam o correto posicionamento para punção de catéteres, realização de angioplastias e detecção de fluxo sanguíneo após cirurgias para restituir à circulação.

Conseguimos ver que as indicações são diversas e inúmeras, sendo um exame não invasivo que está presente cada vez de forma mais forte no cotidiano e no consultório do Cirurgião Vascular.

Como ele é feito?

Este é um exame simples, não invasivo e que exige profissional apto para tal. Realizada no ambiente ambulatorial, ou seja, em laboratórios ou no consultório do Médico Vascular. Não envolve a utilização de anestesia ou analgesia.

O exame se inicia com a colocação de um gel para condução das frequências emitidas pelo aparelho. A partir daí, será mapeada toda a circulação da área que se deseja estudar, interpretando suas alterações. As imagens vão em tempo real para a tela do monitor acoplado, permitem serem salvas e impressas junto com o laudo do exame.

No caso do exame para varizes, ele deve ser realizado com o paciente em posição de pé, e no restante das doenças vasculares, em sua grande maioria, pode ser realizado deitado.

Não necessita ser realizado em jejum, apenas no caso de exames que envolvam a região abdominal, em que um preparo é instruído para o exame.

Quais os cuidados e riscos após o exame?

Por ser um exame não invasivo, a recuperação é imediata, com o paciente sendo liberado assim que o exame termina.

Não existem cuidados adicionais e esse exame não apresenta risco ao paciente, pois não envolve o uso de substâncias e nem a necessidade de introdução de algum material.

Em muitas situações ele é o primeiro exame a ser solicitado, podendo não ser suficiente em todos os casos, devendo ser complementado por exames mais invasivos.

Espero que muitas das suas dúvidas sobre o Doppler tenham sido sanadas e se você precisa realizar esse exame ou saber se ele está indicado no seu caso, marque sua consulta com o Cirurgião Vascular.