Pé Diabético
Qual a importância dessa condição?
O diabetes consiste numa das principais doenças que afetam os seres humanos e grande causa de perda de qualidade de vida, sequelas e morte. É causada por uma deficiência na produção de insulina pelo pâncreas ou pela dificuldade em utilizar adequadamente a insulina existente em nosso corpo.
A projeção mundial sugere que em 2030, mais de 4% da população sofra de diabetes, acometendo mais de 366 milhões de pessoas, levando também ao aumento das suas complicações.
Dentro das complicações do diabetes que incluem graves distúrbios do coração, rins, visão, sistema nervoso, também estão incluídas as alterações Vasculares, dentre elas o chamado pé diabético.
Mas o que é o pé diabético? Consiste em 3 pilares, uma combinação de graves alterações circulatórias (vasculares), neurológicas e infecciosas, juntas elas levam a uma instabilidade do pé que é responsável por deformidades e em última instância a úlceras e extensas feridas, que podem comprometer não somente os pés e pernas quanto a vida.
A prevalência de feridas ocorre em até 1% dos diabéticos com 75 anos e mais de 60% dos casos de amputação das pernas ocorrem devido ao diabetes, sendo cerca de 80% delas precedidas por uma ferida. Calcula-se também que cerca de 20% dos diabéticos que sofrem amputações morrem em até 2 anos e, após 3 anos da cirurgia, apenas 50% estão vivos.
Portanto, vemos a importância dos pés para o paciente com diabetes e como é fundamental seu tratamento e cuidado, pois acabam representando um segundo coração para o diabético.
Mas como se dão as alterações no pé de quem possui diabetes?
O pé é responsável por suportar toda a pressão do nosso corpo e garantir a marcha, nas pessoas sem alterações na glicemia, isso ocorre sem problemas, porém, em diabéticos, essa distribuição de pressão está comprometida e devido às lesões que vão ocorrendo, eles se tornam instáveis e propícios a deformidades. Essas alterações dependem de 3 fatores:
Lesão Vascular: são alterações na estrutura e na função dos vasos, ficando mais sujeitos ao desenvolvimento de aterosclerose e trombose. As alterações ocorrem tanto de forma macroscópica, depositando colesterol na parede das artérias, tornando-as mais rígidas e com mais cálcio, levando a obstruções no fluxo sanguíneo, quanto de forma microscópica, alterando toda a função de transporte de nutrientes e defesa de infecções que ocorrem nas extremidades, favorecendo a formação de feridas.
Lesão Neurológica: o aumento sustentado da glicose leva a destruição de neurônios e de suas conexões, começando pelos responsáveis pela sensibilidade, e a lesão vascular agrava esse quadro, aumentando esse dano. Dessa forma, os pés perdem a proteção do tato e sensibilidade contra a formação de feridas e traumas a que são submetidos os pés.
Infecção: quando além dessas lesões acima ocorre uma infecção no dedo, perto de região de unhas ou nos pés de um paciente com diabetes, especialmente se for sobre uma ferida, esse quadro se potencializa, pois as defesas contra infecção estão comprometidas na diabetes, podendo levar a um quadro rapidamente extenso e destruidor, podendo se disseminar para o organismo e ameaçar a vida.
Essa combinação é fatal, e devemos intervir antes que elas se juntem.
E como são os sintomas?
Os sintomas neurológicos começam com perdas de sensibilidade como formigamento, dormências, cãibras, perda da capacidade de sentir temperatura ou dor e numa fase mais avançada perda do tato e até da capacidade de andar. 25% podem apresentar uma dor intensa, com sensação de agulhadas, queimação que podem ser muito intensas, principalmente a noite.
Com o tempo, as alterações podem levar a atrofia da musculatura, levando a calosidades e deformidades que podem ser as causas iniciais das feridas e úlceras. Com o passar do tempo, surgem as alterações dos ossos, que podem levar a uma perda na conformação do pé, com a queda de seu arco plantar e aparecimento de áreas proeminentes que se tornam pontos de pressão que podem levar a feridas. Assim se formam as feridas típicas na sola do pé, com úlceras, o chamado “mal perfurante plantar”.
Além disso, os sintomas vasculares de obstrução levam a um quadro de isquemia, ou seja, “má circulação”, com prejuízo importante do fluxo sanguíneo e dor ao caminhar, sensação de pés gelados, roxidão e dificuldade em cicatrizar feridas e úlceras que aparecem com o tempo.
Como aparece uma ferida aberta, aumenta e muito o risco de infecção, o diabetes propicia isso, e se torna muito fácil para uma bactéria se instalar na região e iniciar o processo infeccioso com formação de pus, inchaço, vermelhidão, calor local e possibilidade de disseminação para o restante do pé e perna, o que diminui muito a chance de recuperar o pé e aumento o risco de uma infecção generalizada. Os antibióticos também possuem menor penetração na área afetada em quem tem diabetes, devendo o tratamento ser iniciado imediatamente.
Como saber se eu tenho pé diabético?
A consulta com o Cirurgião é fundamental no início do seu tratamento por diabetes, recomenda-se avaliação anual para analisar todos os aspectos relacionados ao pé, neurológico, vascular e infeccioso antes que possam aparecer complicações.
Durante a consulta, muitos aspectos já podem ser analisados e examinados como o estado de circulação das pernas, o teste de sensibilidade e motricidade das pernas, força e avaliação de pequenas lesões que possam passar despercebidas.
Além da consulta, exames como radiografias e ultrassonografia com Doppler também são feitos de rotina para uma avaliação mais objetiva e assertiva do grau e fase da doença.
E como se trata essa condição?
O principal tratamento é a prevenção. Tudo começa com o controle adequado da sua glicemia e dos demais fatores de risco como hipertensão, tabagismo, sedentarismo, dislipidemia e obesidade.
Controlados todos esses fatores, o cuidado diário com os pés também são fundamentais, sendo algumas orientações muito importantes:
- Cuidados de limpeza: sempre realizar a higiene dos pés com água morna e sabão, cuidando de secar bem entre os dedos para evitar micoses, passando talco logo após e hidratar bem a pele da perna e pés para evitar rachaduras e pequenas lesões, principalmente na região do calcanhar;
- Observar diariamente os pés, procurando por pequenas feridas ou traumas que possam passar despercebidos;
- Cuidado com unhas: aparar as unhas de forma reta, longe da pele, sem retirar as cutículas e qualquer alteração deve motivar o atendimento imediato com podólogo especializado ou Cirurgião Vascular;
- Nunca andar descalço e sempre aquecer os pés com meias, evitando as feitas com fios sintéticos, preferir lã;
- Usar sapatos confortáveis, fechados, flexíveis, macios e mais elevados internamente para comportar palmilhas especiais;
- Nunca cortar calos sozinho ou coçar os pés e não aplicar de forma alguma calor excessivo como compressas quentes;
- Não usar antissépticos fortes, especialmente com tintura de iodo ou fitas adesivas.
O controle da dor é obtido escalando-se desde analgésicos simples até medicações mais fortes como opióides ou até medicações com efeito neurológico potente.
Toda infecção ou ferida, principalmente se houver saída de secreção ou forte odor, deve motivar ida imediata ao pronto socorro, pois qualquer atraso pode ter consequências catastróficas.
Casos associados a obstruções arteriais podem necessitar de cirurgias ou angioplastias para “desentupir” a circulação da região e fornecer fluxo de sangue adequado para o pé.
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Todo cuidado é pouco para quem tem diabetes, essa é uma doença crônica e que leva a inúmeras consequências negativas, portanto a prevenção e avaliação precoce por um Cirurgião Vascular fazem toda a diferença para seu tratamento!